O QUE É?
A Adubação Verde é uma prática agrícola muito antiga que os chineses há 2.000 anos atrás já utilizavam, assim como outros povos como os gregos e os romanos.
Esta prática que consiste em se plantar, principalmente, plantas leguminosas para se manter a fertilidade do solo e a produtividade das culturas de interesse, também se mostra eficiente para recuperar e melhorar aqueles solos que naturalmente são pobres. Assim, melhora os atributos químicos, físicos e biológicos do solo. As leguminosas são plantas de uma família com uma diversidade grande de espécies, tais como: feijões, ervilha, guandú, grão-de-bico, soja, pau-brasil, sibipiruna, leucena, angico, gliricídia, sansão-do-campo, pata-de-vaca, copaíba etc.
As leguminosas conseguem realizar nas suas raízes uma associação com bactérias que são capazes de fixar no solo o nitrogênio (N2) que existe no ar. Esse conjunto ou aglomeração de bactérias são conhecidos como nódulos das raízes, como mostra a figura 1. São constituídos especialmente por bactérias do gênero Rhizobium.
Essa associação favorece o crescimento e o bom desenvolvimento tanto das leguminosas, como das plantas que se encontram próximas a elas. É uma associação benéfica para ambas, pois, a planta recebe o nitrogênio que a bactéria excreta, ou seja as fezes da bactéria cheias de nitrogênio. Em troca recebem carboidratos, ou seja, alimento produzido pela planta.
Figura 1 - Exemplo dos nódulos com bactérias do gênero Rhizobium.
Outra finalidade da adubação verde, independente da família de planta que se utilize, é deixar o solo sempre coberto com matéria orgânica, proveniente das próprias plantas utilizadas para este fim. Dessa forma se protege o solo da força da chuva, que compacta o solo e do calor que mata boa parte da vida. Também retém umidade, aduba e aumenta a diversidade de vida no solo.
COMO PLANTAR?
Normalmente o plantio de adubação verde com culturas anuais, se faz com duas ou mais espécies juntas. Chamamos isso de coquetel de adubação verde. Para compor esse coquetel, cada espécie escolhida terá a sua porcentagem de mistura informada pelo fornecedor. Para o preparo do solo, a calagem e fosfatagem devem ser realizadas uns 15 dias antes da semeadura. Para o plantio de forma mecanizada, passar uma grade leve. Depois realizar a semeadura a lanço do coquetel. Por fim passar a grade bem superficialmente apenas para enterrar as sementes. O plantio também pode ser realizado com plantadeira. Em locais sem disponibilidade de tração mecanizada, deve se abrir sulcos em linha com a inchada, semear a lanço no sulco e cobrir as sementes com terra. Para as culturas anuais teremos as adubações verdes de verão e de inverno.
Dentro do Projeto Plantando Águas, a adubação verde de verão de anuais foi feita com as seguintes espécies: crotalaria-breviflora, crotalaria-juncea, crotalaria-spectabilis, feijão de porco, feijão guandu comum, feijão guandu anão e milheto. Na composição do coquetel, admitiu-se para cada uma das espécies a proporcionalidade recomendada de sementes para semeadura a lanço fornecida pelo vendedor.
Já na adubação verde de inverno de anuais foram utilizadas as espécies: aveia preta, nabo forrageiro e tremoço branco. Admitiu-se a proporção aproximada de 44%, 12% e 44%, respectivamente para cada uma das espécies na composição do coquetel que seguiu a recomendação do vendedor para quantificar as proporções de semeadura neste coquetel específico.
As adubações verde arbustivas e arbóreas deverão ser plantadas nas linhas de plantio das frutíferas e/ou madeiráveis, no espaçamento correto. As espécies escolhidas para este fim, da família das leguminosas, aumentam o nitrogênio disponível às outras plantas e produzirão bastante esterco na área pois serão frequentemente podadas.
COMO UTILIZAR?
Quando plantamos as leguminosas em nosso sistema produtivo, naturalmente teremos um aumento na quantidade de N2 disponível no solo. O aumento da fertilidade do solo acontece porque nem todo o nitrogênio fixado pelas bactérias (em forma de amônia) consegue ser absorvido pela planta, ficando essa sobra no solo para que a raíz de outras plantas possam utilizar.
Se for composta de plantas anuais, ao final do ciclo de vida das mesmas, estas serão roçadas e serão dispostas sobre o solo, para manter o solo coberto. Também se pode incorporar essa matéria orgânica ao solo. Importante lembrar que para incorporar essa matéria orgânica, deve se atentar que para isso será necessário revolver o solo novamente, o que não é benéfico para se ter uma boa estrutura e vida no solo. Caso seja decidido incorporar, atenção para que seja com pouca profundidade. O revolvimento com implemento deve ser realizado o mais superficial possível, para que os nutrientes fiquem disponíveis para o próximo cultivo.
Se for uma adubação verde composta de indivíduos arbustivos e arbóreos, estes serão podados de tempos em tempos, para que as plantas possam investir novamente em folha e madeira, ou seja, adubo de qualidade. É importante escolher espécies que aguentem essas podas drásticas, todos os anos. Esse material orgânico será disposto sobre o solo, tendo atenção para que a madeira fique o máximo em contato com o solo para não secar completamente e poder ser decomposta. Essa pode ser considerada uma adubação de médio a longo prazo. Madeira que não fica em contato com o solo, seca muito e acaba por atrair muito cupim.
Qual o Benefício para o Agricultor(a)?
A família agricultora ao longo do tempo tem um menor custo energético e conquista uma dependência menor da indústria de fertilizantes.
O uso dessa técnica pode trazer os seguintes benefícios:
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Aumenta a capacidade de armazenamento de água no solo.
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Controla nematóides e fitoparasitos com espécies não hospedeiras/antagonistas.
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Descompacta, estrutura e areja o solo.
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Diminui a amplitude de variação térmica diuturna do solo.
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Fornece nitrogênio fixado diretamente da atmosfera.
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Intensifica a atividade biológica do solo.
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Melhora o aproveitamento e eficiência dos adubos e corretivos.
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Produz fitomassa para cobertura morta.
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Protege as mudas-plantas contra o vento e radiação solar.
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Protege o solo contra os agentes da erosão e radiação solar.
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Cobre o solo com grande quantidade de massa verde em curto espaço de tempo.
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Recicla os nutrientes lixiviados em profundidade.
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Recupera os solos degradados.
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Reduz a infestação de ervas daninhas, incidência de pragas e patógenos nas culturas.
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Desintoxica o solo com a mitigação de metais pesados, resíduos de defensivos e excesso de nutrientes, fitorremediação.
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É matéria prima para compostagem.
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Reduz os teores de alumínio trocável e libera fósforo fixado.
Resultando em:
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Ganhos reais: Aumenta a produtividade e melhora a qualidade do produto da atividade agropecuária;
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Fortalecimento econômico: Quebra o ciclo de dependência do agricultor aos pacotes tecnológicos;
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Sustentabilidade: Recupera e mantém a estabilidade e a durabilidade da capacidade produtiva do solo. Cria um solo vivo.
Dentro da proposta do Plantando Águas de utilizar tecnologias alternativas e de baixo custo, quando pertinente, foi e será utilizada a adubação verde de verão e de inverno, principalmente nas áreas com implantação de Sistemas Agroflorestais.