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O pastejo rotacionado tem sido uma das principais técnicas adotadas no processo de intensificação dos sistemas pastoris e suas raízes refletem os prímórdios da humanidade, através da figura do pastor ao lado de seu rebanho. Esse sistema de manejo consiste na utilização de pelo menos dois piquetes submetidos a sucessivos períodos de descanso e de ocupação. Durante o período de descanso, ocorre a rebrota da planta forrageira na ausência do animal. No período de ocupação, verifica-se a utilização do pasto pelos animais, paralelamente ao processo de crescimento da forragem no piquete que não está sendo utilizado. O intervalo de tempo resultante do somatório desses dois períodos representa o ciclo de pastejo.

Em manejo convencional extensivo os animais se alimentam das rebrotas das forrageiras por serem mais palatáveis, porém os rebrotes são pobres em fibras e ricos em compostos nitrogenados. Nos casos mais graves pode causar diarréia nos animais, ocorrendo uma perda de peso e diminuição da produtividade. Já o pastejo rotacionado, a partir do piqueteamento do pasto, tem no respeito ao tempo de ocupação destes piquetes, que não deve exceder o tempo de rebrota das gramíneas, sua maior diferença e vantagem em relação ao manejo convencional.

No geral, esse tempo irá variar de acordo com as espécies utilizadas, tipo de técnica de manejo e insumos, assim como com a estação do ano e as fases da lua. Já o período de descanso dos piquetes está relacionado com o ponto ótimo da forragem utilizada. Nesta fase as suas folhas são ricas em fibras e os compostos nitrogenados se apresentam na forma de aminoácidos.

Na técnica denominada Pastejo Rotacionado Voisin (PRV), o resgate da intimidade entre animal, pasto e agricultor é considerada a essência para compreender o desenvolvimento e necessidades naturais de todos os envolvidos. E estão traduzidas nas 4 leis universais do PRV, que são: 1. do Repouso; 2. da Ocupação; 3. do Rendimento Máximo e 4. do Rendimento Regular.

Esse sistema permite ter um trato dócil do rebanho com aumento da produtividade e sem que haja degradação das pastagens. Ao invés da degradação, o rebanho traz fertilidade ao solo! Com a aplicação adequada das 4 leis, obtém-se aumento progressivo da fertilidade do solo, quantidade e qualidade de forragem. Dessa forma, se mostra um método racional de gestão do trabalho com foco no manejo do solo.

A intenção é criar ambiente ótimo de coexistência entre o agricultor, o solo, as plantas e os animais para que todos possam viver de forma harmônica, saudáveis e produtivos à baixo custo, levando em conta desde os aspectos básicos de sanidade até a alimentação mais adequada.

 

Interessado? Seguindo os próximos passos você poderá planejar esse tipo de manejo que além de aumentar sua produtividade estará ajudando na conservação do solo.

 

  1. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ROTAÇÃO NA PASTAGEM

 

Passo 1 - Levantamento de Dados

Você deverá definir qual será a área total em que pretende montar o sistema rotacionado, qual será o período de ocupação de cada piquete e escolher as forragens com as quais pretende trabalhar.

 

Passo 2 - Definir o Número de Piquetes 

Para facilitar o entendimento desta explicação, vamos usar um caso fictício. A tabela 1 indica o período de descanso de algumas forrageiras. Este período de descanso é o tempo necessário para as folhas chegarem no ponto ótimo, ou seja, estarem com maior teor de nutrientes e fibras. Iremos trabalhar com três forrageiras.

 

Tabela 1 - Período de descanso

Sendo assim, iremos escolher o Tifton, a Brachiaria humidicola  e o Andropogon, que segundo a tabela 1 possuem período de descanso, respectivamente de, 25 a 35 dias; 20 a 30 e 25 a 30. Assim, podemos trabalhar com 27 dias de descanso para nossos piquetes, ok?

 

Para o tempo de ocupação, será considerado 3 dias, ou seja, de 3 em 3 dias teremos que mudar o rebanho de piquete.

 

Para calcular o número de piquetes vamos usar a fórmula:

 

Então no nosso exemplo, teremos:

Logo, teremos o número de 10 piquetes para o nosso exemplo de pasto rotacionado.

 

Passo 3 – Qual a Área de Cada Piquete?

Seguindo com o nosso exemplo temos que definir a metragem de cada piquete. Para calcular, dividir a área total de pasto pelo número de piquetes, seguindo a fórmula abaixo.

Vamos aplicar no nosso exemplo uma área total disponível de 1 hectare, ou seja, 10.000 m². Sendo assim:

 

Essa conta chega ao resultado de que cada piquete terá 1.000 m² de área.

 

Passo 4 – Quanto que 1 animal come por dia?

Cada animal come por dia uma quantidade padrão de alimento, que é sua exigência diária espécífica, dependendo do tipo de criação.

 

Tabela 2 - Consumo diário por criação.

Em nosso exemplo, vamos usar os bovinos e determinar que as vacas pesam em média 500 kg, ou seja,  irão comer cada uma 12,5 kg por dia.

 

Sendo assim, como nosso tempo de ocupação será de 3 dias a quantidade de forragem para atender a necessidade de cada vaca será de 37,5 kg.

 

Passo 5 – Definir a quantidade de animais.

Para isso precisamos definir a quantidade de forragem produzida na área. Temos alguns exemplos na tabela 3. Se o capim que você escolher para trabalhar não estiver relacionado na tabela 3, pesquise entre os seus vizinhos ou com os técnicos de extensão rural do município.

 

Tabela 3 - Produção de Massa Seca.

Consultando a tabela podemos ver que a produção de massa seca para as três espécies escolhidas é, respectivamente, entre 10 a 14; 10 e 10 a 14 toneladas/hectare/ano, então podemos definir o valor de 10 toneladas por hectare para cada uma. Sendo que serão plantadas em consórcio, podemos considerar que as três juntas irão produzir as 10 ton/ha/ano.

 

Vamos calcular quanto de massa seca esse consórcio irá produzir no nosso piquete de 1.000m².

Se em 10.000 m² o consórcio produz 10.000 kg, em 1.000 m² irá produzir 1.000 kg de massa seca.

 

Com este resultado podemos definir quantos animais podemos colocar em cada piquete. Sendo assim, temos que cada animal irá consumir 37,5 kg, então podemos dividir a quantidade de massa pelo consumo de cada animal:

Teremos então a taxa de lotação de 27 animais por piquete.

 

Logo, neste exemplo utilizado, poderemos colocar 27 animais em 1 hectare, subdividido em 10 piquetes de 1.000 m² cada, em sistema de pastejo rotacionado com forragem em consórcio entre o Tifton, a Brachiaria humidicola  e o Andropogon .

 

Passo 6 – Oferta de água para o rebanho

A água deverá ser colocada em cada piquete que estiver sendo ocupado, buscando ter bebedouro redondo e que possibilite que o gado beba água por todos os lados. Isso diminui a perda de massa corporal do gado, em busca da água.

 

Passo 7 - Oferta de suplementação

A suplementação mineral poderá ser realizada no piquete em cochos baixos ou direto no chão. Isso é para melhor acostumar o rebanho a ter o habito de forragear, pois a base da alimentação será disponibilizada pelos piquetes. A suprementação deve ser avaliada em relação a época do ano e a sanidade do rebanho.

 

  1. PRV - PASTEJO ROTACIONADO VOISIN

 

                O PRV possui algumas diferenças ao sistema apresentado acima, pois considera a questão do trato dócil do animal, respeita as necessidades dos mesmos e busca qualificar melhor o uso dos piquetes, inclusive aumentando a taxa de lotação sem grandes gastos com aporte de insumos externos. Sendo assim, os objetivos e vantagens do PRV são:

 

  1. Melhorar a qualidade ambiental, pois isola o gado das áreas de proteção permanente, permitindo ao mesmo que tenha acesso à água em bebedouros adequados;

  2. Melhorar a qualidade e a produtividade do pasto;

  3. Aumentar a disponibilidade do pasto na escala do tempo e com regularidade durante o ano todo;

  4. Produzir carne e leite a baixo custo;

  5. Melhorar a fertilidade biológica do sistema e principalmente, a do solo;

  6. Reduzir a erosão e evitar caminhos sem vegetação ou carreadores;

  7. Aumentar o bem estar animal, pois fornece água, pasto de qualidade, sombra e diminui infestação de parasitas internos e externos;

  8. Melhorar a sanidade geral do rebanho;

  9. Permitir o melhoramento dos pastos pela introdução de novas espécies através da sobre-semeadura, re-semeadura e plantio na bosta;

  10. Permitir o uso de uma maior carga animal por área;

  11. Reduzir os efeitos da dominância entre os animais.

 

Para alcançarmos essas vantagens devemos seguir todas as 4 leis abaixo.

 

As quatro leis do PRV:

  1. do Repouso - Para o pasto, respeitar o ciclo de desenvolvimento das plantas é a referência correta para se ter ganho de produção e redução de custo. Em média, o tempo que precisa para estar ótimo para ser novamente pastoriado irá depender das espécies escolhidas, época do ano e fertilidade do solo. Sendo assim, esse tempo poderá ser muito diferente, caso a caso e pode variar entre 30 a 50 dias, ou mais se tivermos uma condição muito ruim da fertilidade do solo ou um local de clima muito frio.

O número de piquetes no PRV possui um valor mínimo e recomenda-se para o contexto da agricultura familiar, o mínimo de 40 piquetes. Esse número de piquetes está relacionado com o perído de descanso do pasto, que deve ser por volta de 39 dias. Como temos uma intensidade maior de uso do pasto, ou seja, com uma maior taxa de ocupação dentro de um período de tempo pequeno, teremos um bom manejo visto que o pastejo do gado consumirá toda a massa verde de boa qualidade produzida antes de iniciar um processo de sobrepastejo, ou seja, enfraquecimento do pasto.

 

  1. da Ocupação - O piquete deve ter uma ocupação maximizada e por tempo curto, para que não dê tempo para os animais comerem o rebrote, que em média demora de 1 a 2 dias para rebrotar.

Não respeitar esse tempo, é o primeiro passo para a degradação da pastagem.

A rotação de piquetes não deve seguir uma ordem, sendo que o próximo piquete que deverá ser utilizado, deverá ser aquele que está em ponto ótimo de repouso. E ainda, no período chuvoso, caso haja muita produção, o excedente pode ser transformado em silagem. E quando for dar alimento ou suplementação, sal ou outros, aos animais faça isso diretamente no pasto, para que não percam o ritmo de buscar alimentação diretamente do solo e para que deixem seus excrementos e urina no local aumentando a fertilidade do solo.

 

  1. do Rendimento Máximo - Na prática, o agricultor favorece os animais de exigência alimentícia maior, separando seu rebanho em dois. Esse manejo é chamado de Desnate e Repasse. Compõem o grupo de desnate os animais em lactação, em gestação e filhotes. O grupo de repasse é composto pelos outros animais do rebanho. Sendo assim, cada piquete tem um tempo de ocupação de dois dias, com a rotação entre piquetes sempre com o grupo de desnate no primeiro dia e o de repasse no segundo. Entretanto esse manejo exige que se tenha água nos piquetes. Por exemplo, para cada litro de leite produzido o gado deve beber de 4 a 5 litros de água, além da água de manutenção do animal, numa média de 80 litros por dia. Bebedouros circulares facilitam que todo o rebanho beba mais água.

 

  1. do Rendimento Regular - A cada troca de piquete os animais tem um ganho maior no primeiro dia de ocupação, diminuindo nos dias seguintes. Quando entra em um novo piquete, o ganho novamente é maior do que os anteriores, caindo novamente nos dias seguintes.

É importante saber que para a instalação dos piquetes, devemos, antes de mais nada, reservar espaço entre 05 a 10 metros para os corredores e subtrair o que será área de corredor da área total de pasto a ser dividido em piquetes. Lembrando que, um corredor largo também poderá ser usado como piquete. Sendo assim, as porteiras deverão ter a mesma largura do corredor, para que seja possível se fechar o corredor com cerca eletrificada para formar um novo piquete.

O plantio de aléias com fileiras duplas de árvores em pelo menos uma lateral de cada piquete, traz um maior conforto aos animais nas horas mais quentes do dia, fazendo o mesmo transpirar menos, ou seja, também reflete uma prática para o aumento na produtividade. Para se planejar as aléias é necessário se atentar ao relevo e saber o caminho que o sol faz no céu no período de inverno, ou seja, onde fica o Norte e o Sul em sua propriedade. Isso para respeitar a relação que o pasto tem com o ótimo período de insolação ao longo do dia. 

Além desse benefício, as árvores também irão fertilizar o solo e as espécies que serão plantadas podem ser escolhidas por serem palatáveis ao rebanho em questão.

               

Gostou? Este é um material introdutório para facilitar a começo de seus estudos e para que elabore o seu projeto, boa sorte!

PASTEJO ROTACIONADO

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